A presença de Rui Paixão não passa desapercebida no programa "All Together Now". A indumentária colorida, a maquilhagem excêntrica e a peruca cor-de-rosa do artista circense destacam-se na parede "humana" que compõe o leque de cem jurados do talent show da TVI, exibido ao domingo à noite e apresentado por Cristina Ferreira.
Atrás da aparência exuberante - necessária à personagem que criou, Rrose Sélavy, - o palhaço esconde um vida pautada por momentos de muita dificuldade. Comecemos pela infância. Natural de Santa Maria da Feira, Rui Paixão sofreu desde muito cedo o preconceito de ter peso a mais. "Era o rapazinho gordo da escola, que sofria bullying, era mau a desporto e o melhor amigo das miúdas", começou por contar a uma publicação semanal.
A profissão de palhaço não é um acaso na sua vida. Desde cedo entendeu que tinha a capacidade de transmitir alegria aos outros, principalmente à progenitora durante um período delicado da vida. "A minha mãe pensou no suicídio e a minha vida estava num caos. Lembro-me quando fui fazer um espetáculo e vi-a a conviver com as outras mães, toda divertida a rir, parecia outra pessoa", confidenciou à TV Guia. Nesse momento percebeu que o seu futuro por ali tinha de passar.
Da infância, o artista não guarda só memórias positivas. Bem pelo contrário. "Havia o drama da depressão da minha mãe, vivi num ambiente negro e pesadão na família e isso só me fazia querer agarrar à vida e ser feliz."
Dormiu com ratos até conquistar um lugar ao sol
O passado difícil fê-lo segurar a vida com unhas e dentes. Esta foi-lhe retribuindo com uma oportunidade de ouro que não deixou escapar. Do alto dos seus 23 anos, Rui Paixão pode vaidosamente ostentar o facto de ter sido o primeiro palhaço português a chegar ao renomado Cirque Du Soleil. Um privlégio ao alcance de poucos.
Contudo, até lá chegar, o caminho foi penoso. Com dificuldade em conseguir trabalho em Portugal, Rui escolheu rumar até Edimburgo para lutar pelos seus sonhos. Por lá, confrontou-se com a dura realidade de quem recomeça do zero com poucos meios, mas até nos momentos mais difíceis consegue encarar as coisas com humor. "Fiquei a dormir numa casa que tinha um rato a passar-me aos pés, a que chamei Fausto. Era este o nível", confessa.
Chegou ao Cirque du Soleil e brilhou. Muito, por sinal. Só a pandemia foi capaz de ofuscar-lhe os sonhos. Curiosamente - e porque a vida não é feita de acasos - todos os domingos, na estação de Queluz de Baixo, dá o seu contributo para que outros possam realizar os seus.
Texto: Alexandre Oliveira Vaz; Fotos: Redes Sociais
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